Com sotaque alagoano ainda forte apesar de viver há 37 anos em Florianópolis, Edilma Guimarães Rosa, 55, viúva do saudoso Ademir Rosa (1949 – 1997), desculpa-se desnecessariamente por ter poucas fotos antigas do marido. “É que nos anos 70 não se fotografavam com freqüência apresentações teatrais.” Ela foi procurada na última semana pela Fundação Catarinense de Cultura. O motivo: receber uma homenagem em nome do ator , dramaturgo e agitador cultural que dá nome ao teatro do CIC (Centro Integrado de Cultura) durante a aguardada reabertura do espaço, marcada para hoje. Dona Eli da Silva Rosa, mãe, também será homenageada.
Por uma ironia do destino, Ademir Rosa encabeçou vários movimentos na porta da instituição reivindicando a abertura da pauta do teatro para grupos da cidade nos anos 1980. “Quando o teatro do CIC foi inaugurado existia preconceito contra as companhias locais e a pauta abrangia espetáculos de fora”, conta Edilma. “Por isso o nome do Ademir no teatro representa a luta dele e dos movimentos artísticos por mais espaço para a cultura.”
Sociólogo por formação, Ademir Rosa tinha como proposta um teatro político social. “Era um marxista”, define Edilma. Apaixonado por teatro desde jovem, ele trabalhava como servidor público no INSS (Instituto Nacional de Seguridade Social) e se dedicava ao teatro à noite e pela madrugada a dentro, aos finais de semana e feriados. “Ademir era muito envolvido com a cultura. Se não estava atuando, estava em algum movimento artístico-político-cultural.” E também não era qualquer texto ou montagem que o convenciam. “Só atuava em espetáculos cujo texto tivesse fundamento. Tinha que fazer pensar, trazer questionamentos”, conta Edilma – que o acompanhava sempre, mas só nos bastidores.
Em 27 anos de carreira, Ademir Rosa atuou como ator ou diretor em 25 montagens teatrais e seis filmes. Militante de muitas causas, ajudou a fundar o Partido dos Trabalhadores de Santa Catarina e coordenou o Sindiprevis (Sindicato dos Trabalhadores da Previdência Social). Foi também dramaturgo: escreveu seis peças, todas críticas. “Ele começou a escrever porque sentia necessidade de mais e bons textos e acabou incentivando outros artistas a se dedicarem à dramaturgia”, comenta Edilma.
Namoro por cartas
Edilma Guimarães Rosa tem jeito de menina envergonhada. De estatura baixa, formava um par interessante com Ademir Rosa, um homenzarrão de 1, 90 m de altura que chamava atenção por onde ava. Os dois se conheceram em Alagoas, em 1974. Ela tinha 17, ele 25. Ademir era estudante de sociologia e nesse ano integrou uma expedição ao Nordeste pelo projeto Rondon. Encontraram-se numa festa no interior do Estado. “Ele se encantou por mim. Eu pensava: esse cara é maluco, queria só bater foto minha.” Namoraram os pouco mais de 20 que o catarinense continuou em Alagoas. Ao longo do ano seguinte o namoro foi por cartas. “Eram cartas lindas, cheias de poemas. Me apaixonei .”
Ao mudar-se para Florianópolis, a alagoana decidiu estudar ciências sociais para conseguir entender a cabeça do marido. “Ele era feminista e eu a machista da relação”, diverte-se ela, que acabou descobrindo mais tarde a fonoaudiologia como vocação profissional.
Em 1995, Ademir Rosa descobriu um câncer no estômago. “Ele era forte, muito sauável”, observa a mulher. Lutou contra a doença por dois anos, e durante esse período ainda teve tempo de organizar sua memória, como acervo de fotos, documentos, livros, e até um currículo escrito a mão.
Edilma conta sem ressentimentos ou ciúmes que antes de morrer, em 1997,Ademir Rosa confessou que ela era a sua segunda paixão. A primeira de todas sempre foi o teatro.
Saiba mais
O teatro do CIC recebeu o nome de Ademir Rosa em 1998. Foi um movimento da classe artística de Florianópolis, que fez uma moção para que o governo batizasse o teatro em sua homenagem.